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O policial federal e o gordinho

Quinto artigo do colunista “APF do Norte”, pseudônimo de um policial federal novato que conta histórias do cotidiano profissional. “Essa hora eu nem conseguia mais pensar em nada. O fuzil já pesava toneladas e o cansaço vai nos tornando descuidados.” 

13/11/2017

Como policiais federais, somos chamados várias vezes para fazer escoltas de agentes da fiscalização do meio ambiente. Dessa vez, eles me solicitaram, junto com um colega, a escoltar 2 agentes de fiscalização ambiental nas áreas federais. Uma cidadezinha próxima daqui.

A locomoção para essas áreas a serem fiscalizadas é de “rabeta” (pequena embarcação com um motor de poupa, especialmente feita para subir corredeiras e passar pelas pedras) e a pé. E o agente de fiscalização, que vou chamar de Gordinho, avisou: temos que fiscalizar uma área de desmatamento aqui perto. Sairemos às 09 horas de amanhã.

Acertamos de onde seria a partida e, no outro dia, saímos em direção ao local a ser fiscalizado. Foi aproximadamente 1h de barco até lá. Para chegar à trilha, tínhamos que subir um barranco íngreme e escorregadio. Tinha muita lama. Uma coisa é você subir isso estando com roupas normais. Outra é subir equipado com colete, pistola, algema, cinto tático e fuzil. Então a aventura já começou nessa hora.

O agente Gordinho esqueceu de nos avisar que, além de 1h de barco, teríamos que caminhar mais uns 5 km no mato. Como ele não nos avisou isso, nós não nos preparamos para essa caminhada. 5 km ida e 5 km volta. Essa distância, numa rua pavimentada, você, com passadas rápidas, faz em 50 minutos cada trecho. Mas na trilha no meio da floresta, esse tempo dobra. Além disso, a floresta é úmida e muito quente. Só tínhamos 2L de água para 7 pessoas.

Então já na primeira hora a água acabou. Quando achávamos riachos pelo meio do caminho enchíamos a garrafa. Eu tinha levado hipoclorito no meu kit de sobrevivência e pingava uma gotinha para limpar qualquer impureza (isso foi motivo de zuação. Mas tudo que eu não precisava era de uma diarreia). Ainda tinha que alguém levar a garrafa na mão. Nossos coletes tem o camelbak, que é um reservatório de água que você carrega nas costas. Mas não enchemos porque não fomos avisados da caminhada. Então a sede era algo constante. Junto com a dor de cabeça e a dor do esforço de caminhar com todo o equipamento.


Gordinho caminhava no mato como se fosse o ambiente dele. Várias vezes tivemos que pedir para ele diminuir o passo, pois tinha gente ficando para trás. E após duas horas de caminhada, chegamos ao local. Um desmatamento se recuperando. Pouca coisa para fazer. Gordinho pegou o GPS e marcou a área.

Sentamos 10 minutos para descansar. Eu estava totalmente encharcado de suor. Todos da equipe estavam bem cansados. Mas tínhamos agora o retorno. Eu preferia nem pensar nisso. Só coloquei o fuzil nas costas e comecei a seguir Gordinho.

Essa hora eu nem conseguia mais pensar em nada. O fuzil já pesava toneladas e o cansaço vai nos tornando descuidados. Uma hora pisei em falso, me apoiei meio desajeitado numa árvore. Mas vinha embalado, então esse apoio estava mais para um encontrão. E o fuzil bateu forte no meu rosto. O colega perguntou se eu estava bem. Falei que tudo certo! Prosseguimos.

Mais 2 horas de caminhada e chegamos novamente ao barranco onde estavam os barcos. Sentamos para descansar. A ribeirinha nos ofereceu água gelada. E eu juro que pagaria qualquer valor por um copo de água gelada. Demos uma “bronca” no gordinho por não ter nos avisado. Ele riu. Embarcamos de volta. Mais uma hora de viagem até a base na cidadezinha.

A aventura valeu a pena. Mas basta uma dessas por vida. Na próxima vida, me convidem para outra, não nesta de novo, tá? Pensei.

E aí…prontos para enfrentar os “gordinhos” na Federal?!

Fonte: Saga Policial, por APF do Norte, policial federal.

16 respostas para “O policial federal e o gordinho”

  1. Diego Cruz disse:

    kkkkkkkk… Muito bom!!!

  2. Tiago Barbosa - SSA disse:

    kkkkkkkkkkkkkkk, que onda viu…. Massa, PF é selva mesmo!!!

  3. Claudio henrique bernardo pinto disse:

    Se o gordinho avisasse vocês já iriam tristes… Ele já sabia…

  4. R. Cruz disse:

    Show de bola.
    Descobri os teus relatos agora. Vibrei aqui, irmão.
    Uma pergunta: tendo em vista o caos que o RJ está, ainda é muito demorado para conseguir remoção pra cá?
    Considerando o início de carreira em uma fronteira do norte, por exemplo.
    Abraços. Que Deus te abençoe, irmão.

  5. doMonte disse:

    ainda bem que vc não está “gordinho”….ai..nem a rabeta ia aguentar subir o rio…kkkkk

    • APF do Norte disse:

      Rapaz, várias vezes tínhamos que descer e empurrar a rabeta. Encalhava nas pedras!! Acho que nem podemos chamar aquilo de rio. No máximo era um córrego!

  6. Diego Leite disse:

    APF do norte e suas aventuras excepcionais!
    A cada história vejo a minha vontade crescer para fazer parte essa instituição.
    Um forte abraço.

    Avante.

  7. W. Pimenta disse:

    Fala guerreiro..
    Meu nobre! qual seu ponto de vista quanto ao cargo de *Papiloscopista* e *Agente* tem muitas diferenças quanto a quantidade de trabalho e responsabilidades?

    Outra questão são as cotas reservadas a negros e pardos, o que vc acha? vale a pena se declarar e concorrer em ambas as listas?

    Certo da atenção, fico no aguardo.

    Valeu e sucesso!!

    • APF do Norte disse:

      Parceiro, faça para papiloscopista ou agente se abrir. Mas para papiloscopista não há previsão de concurso tão cedo, infelizmente. Mas é um cargo bem interessante. Há quem diga que aquilo que um papilo faz, pode ser absorvido por outros cargos. Eu já acho que quanto mais gente, melhor. E os papi são quase peritos em identificação. É bem interessante.

      Ainda hoje eu estava conversando com um amigo escrivão. E ele já passou por quase todas as áreas do DPF. Isso acontece muito, principalmente nas delegacias do interior, que chamamos de descentralizadas. Nas superintendências a maioria dos escrivães acabam ficando no cartório mesmo.

      No DPF qualquer um faz o trabalho do agente. Tanto faz. Mas vou te falar: tem lugar pra todos os gostos.

      Com relação às cotas, vale a pena se inscrever e concorrer nas duas listas. Quanto mais chances, melhor.

  8. H. Camargo disse:

    Amigo, inicialmente gostaria de parabenizar e agradecer pelos artigos, são interessantes e muito importantes para quem deseja conhecer a rotina de uma carreira, evitando possíveis decepções ou ilusões. Gostaria de que, se possível, informasse sobre os aspectos da profissão de Policial Federal com relação à autonomia enquanto Agente.
    Os Agentes são sempre, apenas, subordinados dos Delegados Federais?
    Há possibilidade de desenvolverem investigações de iniciativa do Agente e depois apresentarem aos Delegados?
    Como geralmente é a relação entre Delegado e Agente? Os Delegados dão ouvidos às considerações dos Agentes, ou querem apenas que se cumpram unilateralmente suas ordens sem considerar os pontos de vista dos Agentes, etc?

    Ficaria muito grato se puder responder, admiro a Polícia Federal mas tenho receios sobre os trabalhos internos. Atualmente sou servidor do Ministério Público de meu Estado, infelizmente, os Promotores e Procuradores de Justiça, apesar de muitas vezes serem educados e gentis, têm sido graves limitações às investigações e ao andamento de processos. Infelizmente vejo carreiras “sem-chefia” como MP e Magistratura como uma perda para a sociedade enquanto não aumentadas as fiscalizações sobre elas, é difícil conviver com Promotores que dificilmente cumprem 5 a 6 horas diárias, enquanto os servidores cumprem as suas, fazem todo o trabalho, fazem inclusive reuniões sozinhos, mas todos os atos processuais ficam represados aguardando pela análise(leia-se assinatura) dos Promotores e Procuradores de Justiça que simplesmente assinam, sem raramente modificar ou acrescentar nada. Para muitos servidores, a lentidão dos Promotores e Procuradores é motivo de “macetar” no trabalho, são servidores felizes porque vão embora mais cedo pra casa sem ter precisado trabalhar muito, já para quem se importa com a sociedade, com a dor do próximo, gera um sentimento péssimo, fazemos horas extras voluntária, sem ganhar nada, ligando para diversos órgãos tentando resolver os problemas das pessoas, sem termos o apoio de nossos chefes que querem ir embora para casa às 13h, ganham 30 mil mensais, e aparentemente não se importam nada com a criança fora da escola e o doente no corredor do hospital. Desculpe o desabafo, é porque já são vários anos em que atuo em um Ministério Público que a Corregedoria é amiga dos Promotores e Procuradores e fazem vista grossa perante o
    mal trabalho dos Promotores, e o Conselho Nacional do Ministério Público só realiza fiscalizações e correições a cada 7 a 10 anos, e, quando realiza, muito raramente pune alguém efetivamente, afinal o Conselho é formado em sua maioria por Promotores, que também não querem ser punidos quando forem fiscalizados um dia.
    Agradeço se puder responder às minhas dúvidas, grande abraço, fique com Deus.

  9. W. Pimenta disse:

    APF do Norte está em regime de internato estudando pra ABIN?

    Sucesso GUERREIRO!!

    Att, WP.

  10. H. Oliveira disse:

    APF do Norte,

    sobre o cargo de Perito você poderia descrever um pouco a rotina, por favor, sou Eng. Agrônoma e gostaria de saber mais informações sobre a atuação.
    Obrigada!!!!

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