Em novembro de 2011, a Universidade Federal Fluminense tomou uma iniciativa pioneira com a criação do Curso de Bacharelado em Segurança Pública. Trata-se do primeiro a ser oferecido por uma universidade federal destinado ao público em geral. A primeira turma se formará no fim deste ano. Em vez de aprender a atirar, alunos estudam cidadania e administração de conflitos. Curso recebe 60 por semestre.
01/04/2015 – Saga Policial /
RIO — Em março de 2012, quando as estudantes Danielle Oliveira e Dylla Neves, ambas com 22 anos, contaram a parentes e amigos que estavam matriculadas no recém-criado curso de bacharelado em segurança pública da UFF, em Niterói, elas enfrentaram preconceito e responderam perguntas inusitadas. Uma reação, analisam hoje, natural para uma iniciativa inédita entre as universidades públicas brasileiras: preparar especialistas na área sem que precisassem passar por academias de polícia. No próximo semestre, o curso formará sua primeira turma.
Dylla e Danielle, que se conheceram no curso, estão entre os formandos. As duas nunca pegaram em uma arma e garantem: atirar é um recurso que deve ser adotado por poucos.
— É engraçado. Muita gente fica surpresa e não compreende o que estudamos. Já nos perguntaram até se, na grade de disciplinas, há aulas de tiro — conta Dylla.
Danielle diz que se acostumou a ouvir questionamentos sobre a carreira que escolheu:
— Fui alvo de discriminação por conta da falta de informação. Pensaram, por exemplo, que o curso levaria a polícia para dentro do campus, que a UFF iria formar PMs ou pessoas para trabalhar como seguranças particulares.
FOCO NA ESTRATÉGIA
O coordenador do curso, o antropólogo e professor Lenin Pires, explica que o objetivo é formar profissionais capazes de desenvolver pesquisas e aplicar conceitos estratégicos na área de segurança pública. Segundo ele, os alunos aprendem a valorizar a cidadania e métodos de administração de conflitos.
— O novo profissional pode trabalhar nas secretarias nacional, estaduais e municipais de Segurança, de Defesa Social, de Defesa da Cidadania e de Ordem Pública, entre outras que se dedicam ao tema do ordenamento do espaço público e dos processos de administração institucional de conflitos. No setor privado, também há uma demanda crescente por esses especialistas — diz Pires.
O professor também destaca que, no estado, 74% dos 92 municípios têm secretarias que administram forças de segurança.
— No curso, ninguém aprende a dar tiro. Pelo contrário. O eixo fundamental propõe uma formação do aluno, com disciplinas no âmbito das ciências sociais — afirma Pires.
Os alunos têm aulas de antropologia do conflito e antropologia do direito. Na área de sociologia, há cursos de conflito e violência. Além disso, os universitários recebem ensinamentos jurídicos. Existem ainda cadeiras focadas no estado, na sociedade e na Constituição.
— É estimulado, como forma de avaliação dos alunos, o exercício de confrontar os conteúdos abordados a uma reflexão sobre as práticas e fenômenos sociais na área de segurança pública — explica Lenin.
Desde que começou, o curso recebe 60 alunos por semestre. Na semana passada, o guarda municipal Jorge Luiz da Silva Sotero matriculava sua filha Bruna, de 18.
— Estou muito feliz, já que, na minha opinião, a área de segurança pública tem tudo para ser mais valorizada. Hoje, é muito desorganizada e sujeita a interesses políticos. Fiquei seguro quando soube que o curso formará profissionais que atuarão do lado de fora, não na linha de frente dos conflitos — conta Sotero.
Fonte: OGLOBO , UFF
Parabéns aos concludentes…